HISTÓRIA E MISSÃO
Tendo em vista a crescente degradação do ambiente enfrentada pela humanidade nas últimas décadas, a introdução transversal da questão ambiental na Universidade faz-se importante, pois a possibilidade de delineamento de novas estratégias de produção e convívio das sociedades humanas com o meio circundante dependerá, em parte, da consciência ambiental dos profissionais formados nas Universidades.
De acordo com Costa-Pinto (2015), há atualmente, certo consenso, entre investigadores das mais diferentes facetas da complexidade ambiental, de que a degradação do ambiente não é apenas um problema ecológico, mas sim um problema ético e civilizacional. O enfrentamento desta crise, em toda a sua complexidade, exige a construção de novos paradigmas éticos e filosóficos “que atravessam os universos científico, técnico, socioeconômico e político” (Marcomin e Silva, 2009:106).
Faz-se necessária uma leitura complexa da questão ambiental para que se possa rumar na direção de sociedades sustentáveis. E isto, por sua vez, necessita, dentre outras coisas, que a Universidade contribua para a formação de conhecimentos e valores essenciais à construção da sustentabilidade.
A edificação de tais valores e conhecimentos, no âmbito universitário, depende da capacidade da Universidade de reunir, em torno da questão ambiental, os mais diversos tipos de saberes de forma multi e interdisciplinar.
A “ambientalização universitária” exige repensar a Universidade como um sistema integrado, de modo a produzir sinergia entre os diferentes conhecimentos nela produzidos. Para que desta forma, seja possível transpor técnica e operacionalmente os desafios da inserção transversal da questão ambiental no meio acadêmico, rompendo as barreiras disciplinares e, assim, propiciar o desenvolvimento do Ensino Superior condizente com os desafios postos para a construção da sustentabilidade planetária, ou seja, de sociedades sustentáveis (Costa-Pinto, 2015).
A inserção transversal do tema meio ambiente, através da educação ambiental (EA), apresenta-se como fecunda, na medida em que a Educação Ambiental vem ao longo das últimas décadas se consolidando interdisciplinarmente na busca pela autonomia do sujeito para agir em prol da sustentabilidade.
No que toca a transversalidade da questão ambiental, é importante esclarecer que o MEC elegeu os seguintes critérios para definir o que são temas transversais (Brasil 1998): Urgência Social – questões graves que se apresentam como obstáculo para efetivação da cidadania; Abrangência nacional – temas que sejam pertinentes a todo o país; Possibilidade de ensino e aprendizagem desde o ensino fundamental; Favorecer a compreensão da realidade e participação social – desenvolver nos alunos a capacidade de posicionar-se diante de questões que interferem na vida coletiva e de promover intervenções responsáveis na realidade.
A ideia de tratar Meio Ambiente como tema transversal advém do reconhecimento de que a problemática ambiental é um assunto sério, pois diz respeito a todas as brasileiras e brasileiros, é passível de ensino e aprendizagem desde o ensino fundamental e sua discussão favorece a compreensão da realidade e a participação social. Ou dizendo de outra forma: há uma indissociabilidade na relação entre as questões ambientais e a qualidade de vida humana, além do fato de que os rumos dessa relação são definidos por decisões políticas que devem ter a participação consciente de todos.
Quanto à interdisciplinaridade, faz-se relevante comentar que este é um tema controverso como nos mostram alguns autores como Siqueira & Pereira (1995); Alves, Brasileiro & Brito (2004). Controverso na medida em que alguns autores percebem as divisões disciplinares como um problema a ser resolvido e outros compreendem que esta divisão disciplinar é importante, uma vez que possibilitam um aprofundamento significativo do conhecimento produzido nas diferentes áreas do saber.
Contudo, há um consenso, tanto sob o ponto de vista epistemológico, como do ponto de vista pedagógico, de que há necessidade de diálogo entre as diferentes áreas para dar conta da complexidade da realidade atual.
Ao pensar nas instituições de ensino, Fazenda (2008) aponta que a interdisciplinaridade, em sua perspectiva educativa, deve orientar as noções, finalidades e técnicas utilizadas no processo educativo para favorecer a aprendizagem, respeitando os saberes dos educandos e sua integração.
Neste sentido, em sintonia com as colocações de Paulo Freire (2005), quando diz que ninguém educa ninguém, ninguém conscientiza ninguém, ninguém se educa sozinho, a Educação tem um papel importante, pois entende-se que ela deve fazer com que o indivíduo pense, antes de tudo, no por quê ele está realizando tal tarefa, pois se o indivíduo só incorpora aquilo em que acredita e que corresponde com a necessidade sentida, processos educadores ambientalistas, fazem-se relevantes no contexto universitário ao pensar-se a transversalidade e a complexidade socioambiental com vistas a sustentabilidade, pois a educação se faz pela aproximação, pelo desvelamento crítico e contínuo da realidade e, portanto, pelo processo de autoconscientização.
Como ulterior colocação vale explicitar que as atividades de Educação Ambiental crítica (Silva, 2007) caracterizam-se por:
Dimensão da relação Ser humano-Ambiente:
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Complexidade da relação;
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Ser humano pertence à teia de relações sociais, naturais e culturais e vive em interação;
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Relação historicamente determinada;
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Ser humano como biopsicosocial, dotado de emoções.
Dimensão da Ciência e Tecnologia:
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Conhecimento científico como produto da prática humana;
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Interdisciplinaridade na produção do conhecimento;
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Processo de investigação envolve rupturas e mudanças de rumo;
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Ciência como uma das formas de interpretação do mundo;
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Cultura local como conhecimento.
Dimensão dos Valores Éticos:
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Questões controversas são apresentadas na perspectiva de vários sujeitos sociais;
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Questões de igualdade de acesso aos recursos naturais e distribuição desigual de riscos ambientais são discutidas;
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Incentivo à formação valores e atitudes direcionados pela ética e justiça ambiental.
Dimensão Política:
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Proposta de cidadania ativa;
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Aponta as responsabilidades das diferentes instâncias (sociedade civil, governo, ONGs);
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Fortalecimento da sociedade civil; - ênfase na participação coletiva.
OBJETIVO NUPEEA
Promover sinergia entre diferentes instituições/organizações/pessoas que desenvolvem ou desejem desenvolver atividades educadoras ambientalistas na região; contribuir com a transição para Sociedades Sustentáveis; e formar/aprimorar a formação de educadores ambientais, tendo em vista contribuir com a implementação da política pública de Educação Ambiental, através da realização de atividades de pesquisa e de extensão universitária.
Objetivos específicos
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Contribuir para a construção de visão crítica a respeito das regiões sul e extremo sul da Bahia, levando em conta a indissociabilidade dos aspectos sócio-históricos e das transformações socioambientais da região;
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Estimular a construção de conhecimento crítico de diferentes concepções teóricas, metodológicas e pressupostos éticos da Educação Ambiental, bem como, subsidiar discussão sobre os desafios da construção, da implementação e da consolidação de processos de educação ambiental crítica na atualidade;
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Promover reflexão crítica sobre as possibilidades e cuidados necessários para a realização de diagnósticos socioambientais participativos e sua relação com a educação ambiental, bem como, promover apropriação técnica de metodologias participativas por meio da “vivência” das mesmas – realização de breve diagnóstico socioambiental participativo;
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Estimular a construção de conhecimento crítico a respeito da forma como os povos e comunidades tradicionais percebem, se relacionam e significam o mundo, além de refletir sobre a importância dos saberes tradicionais influenciarem a elaboração e implementação tanto de políticas públicas, como dos processos de gestão ambiental;
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Subsidiar processos de reflexão crítica sobre a relação entre Gestão Ambiental, Sustentabilidade e Bem-estar Social;
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Refletir sobre as interfaces existentes entre os direitos humanos e a questão ambiental;
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Estimular e auxiliar a elaboração de projetos de educação ambiental, de pesquisa e/ou executivo (não-acadêmico), balizados por um viés crítico e interdisciplinar, que busquem a autonomia dos sujeitos envolvidos;
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Subsidiar processos de reflexão crítica sobre a relação entre Saúde e Questão Socioambiental;
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Estimular o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas que contribuam com a construção de uma visão crítica a respeito da relação entre sociedade, ambiente e educação, bem como contribuam com a construção teórico-metodológica da Educação Ambiental;
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Estimular a produção de material didático e/ou audiovisual referentes às diferentes facetas da questão socioambiental;
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Oferecer cursos de especialização (latu sensu) e cursos e/ou minicursos de extensão universitária voltados à questão socioambiental e às práticas educadoras ambientalistas;
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Estimular a realização de eventos culturais que propiciem a compreensão da relação entre cultura, ambiente e educação;
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Promover parcerias/sinergia entre diferentes organizações, instituições e pessoas (setores Público, Privado e Sociedade Civil) com atuação na região tendo em vista o desenvolvimento e fortalecimento de ações educadoras socioambientalistas e melhoria do bem-estar individual e coletivo;
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Promover sinergia entre diferentes atividades acadêmicas de educação ambiental da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB);
Referências Bibliográficas
CARVALHO, Isabel Cristina. “Qual educação ambiental? Elementos para um debate sobre educação ambiental e extensão rural”. Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, no 2, vol. 2, Porto Alegre, abr/jun, 2001.
COSTA-PINTO, Alessandra Buonavoglia. Potência de Agir e Educação Ambiental: aproximações a partir de uma análise da experiência do Coletivo Educador Ambiental de Campinas (COEDUCA) SP/Brasil. Tese de Doutorado, São Paulo, USP, (Programa de pós-graduação em Ciência Ambiental) & Lisboa, Universidade de Lisboa, (Programa de pós-graduação em Filosofia), 2012.
COSTA-PINTO, Alessandra Buonavoglia. Reflexões preliminares sobre a relação entre processos de Ambientalização Universitária, Educação Ambiental e Sustentabilidade. In: XXX Congressso da Associação Latinoamericana de Sociologia (ALAS), 2015.
COSTA-PINTO, Alessandra Buonavoglia; WUNDER, Alik; OLIVEIRA, Caroline Ladeira de; SPEGLICH, Érica; JUNQUEIRA, Kellen; AVANZI, Maria Rita; NONATO, Rita de Cássia; SAMPAIO, Shaula Maíra Vicentini; OLIVEIRA, Vivian G. de. "Partilhando Saberes: reflexões sobre educação ambiental no Vale do Ribeira, SP". Educação: teoria e prática. Rio Claro. UNESP – IB, vol 09, nos 16 e 17, 2001.
FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade-transdiciplinaridade: visões culturais e epistemológicas. In: FAZENDA, Ivani (org.). O que é interdisciplinaridade? São Paulo: Cortez, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 45ª ed, 2005.
MARCOMIN, Fátima E. & SILVA, Albeto D. E. Sustentabilidade no ensino superior brasileiro: alguns elementos a partir da prática de Educação Ambiental na Universidade. In: Contrapontos – Revista de educação da Universidade do Vale do Itajaí, vol 2, no , 2009.
SILVA, Rosana L. F. O MEIO AMBIENTE POR TRÁS DA TELA: CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DOS FILMES DA TV ESCOLA. Tese de Doutoramento, Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.