Diego Márcio Ferreira Casemiro, Felipe Soares de Moraes, Alessandra Buonavoglia Costa-Pinto
Artigo publicado originalmente em: ecodebate.com.br
A partir da Revolução Industrial, fortalecer-se-á no mundo a necessidade de expansão das riquezas e, consequentemente, da disputa por território para alocação – e expropriação – de recursos naturais por parte das grandes empresas e corporações. Nesse cenário, amplia-se também a ideia de desenvolvimento, sobretudo ligado à economia e ao sistema de base capitalista, tonificado pelo Estado. Dessa forma, o novo panorama mundial é instaurado e os padrões de consumo e utilidade das coisas são alterados, fazendo do homem um utilizador inconsciente da natureza e de seus recursos naturais (GOMES, 2012).
Sabe-se, por exemplo, que, empiricamente, por lixo é entendido tudo aquilo que não possui mais um valor prático de utilização e assim pode ser descartado sem grandes dificuldades, movimentando as pessoas a acreditarem que este é o conceito que carrega a finalidade única e última da palavra, sem distorções ou problematizações. O que resulta no não conhecimento e a não preocupação dos processos que circundam o lixo, como vistos na pré e na pós feitura dele, desde a produção do material até destinação final que é dada para ele.
E é em conformidade à isso que aparecem os interesses das grandes empresas e corporações, que vêm para intensificar uma produção que despeje um sem-número de eletrônicos, roupas e calçados na sociedade, estimulando a adaptação e o consumismo (GODECKE; NAIME; FIGUEIREDO, 2012). Similarmente, tudo o que é produzido traz consigo uma dose de malícia, pois são feitos para durarem pouco e fluir o ciclo ditado pelo mercado: comprou, quebrou, descartou, comprou.
As intenções desses atores se justificam em lucrar, e para isso utilizam-se de manobras comerciais e políticas, quando não destes dois juntos, para a busca incessante ao capital. A História das Coisas, documentário de 20 minutos, faz o papel de ilustrar muito bem essa corrida e esses atores, trazendo eles como administradores de pessoas, pois ao passo que se engrandecem dentro do sistema, só conseguem através do aproveitamento do tempo de indivíduos subordinados, e de expropriação de recursos naturais locais – colonialismo moderno.
Mas, para contrapor o interesse econômico dos grandes e neutralizar o Estado, surge a Gestão Ambiental Pública como estrutura de proteção e preservação da natureza, cujo objetivo se faz com o Poder Público e a coletividade, resguardados pelos elementos da Constituição Federal no seu artigo 225, ao qual estabelece como direito dos brasileiros o equilíbrio ecológico do meio ambiente, para uma qualidade de vida sadia, e institui como dever a defesa deste meio ambiente para que ele não se perca até futuras gerações (QUINTAS, 2005).
É de fato uma conquista para as organizações que já se preocupavam com o meio ambiente, e que agora tendem a ser empoderadas por instrumentos legais. Porém, a perversidade dos detentores do poder capital nesse modelo hegemônico capitalista vigente, desabotoam dissidências nas considerações socioambientalmente mais justas de enxergar o mundo e transformar a sociedade. De tal maneira que é visto, no presente, grandes desdobramentos acerca do conceito de sustentabilidade, sendo pensado até em analogia com uma dualidade já conhecida na nossa estrutura social, o capitalismo versus socialismo (CARVALHO, 2008).
Se de um lado nós temos uma sustentabilidade pensada na mudança dos padrões de consumo, do outro nós temos a perpetuação deste padrão e a falsa adoção de consumismos “sustentáveis” (FOLADORI, 2011). E para intermediar esse conflito, é necessário a ajuda de uma Gestão Ambiental Pública moldada pela Educação Ambiental Crítica (SILVA, 2007), com gestores habilitados e capazes de identificar problemas e injustiças ambientais. Nesse sentido, Quintas (2012) afirma que
[…] em uma outra concepção de educação que toma o espaço da gestão ambiental como elemento estruturante na organização do processo de ensino-aprendizagem, construído com os sujeitos nele envolvidos, para que haja de fato controle social sobre decisões, que via de regra, afetam o destino de muitos, senão de todos, destas e de futuras gerações.” (QUINTAS, 2007, p.134)
Percebe-se, dessa forma, que o preparo dado tem muito a ver com a percepção do meio social, protagonizando as pessoas. Afinal, a mobilização social acontece quando uma comunidade é organizada a ponto de sua sensibilização gerar resultados palpáveis na vida em aspectos psicológicos e visuais. Por exemplo, a revitalização de matas ciliares perdidas à beira de um rio, onde famílias ribeirinhas se empenhem a [re]transformar o espaço perdido. Ou seja, é notório que a boa capacitação dos gestores se dá através da ajuda da sociedade civil.
Para finalizar, é necessário compreender que convivemos sob uma estrutura econômica sistêmica que ataca tudo aquilo que foge dos seus ideais. Se ela pede para comprar, as pessoas precisam comprar para não serem alvo de injustiça, indiferença e exclusão. Se ela pede por trabalho, as pessoas trabalham para consumir muito e render um mercado cíclico. Dentre essas e outras assunções, um pensar mais criticizado emerge para sensibilizar e provocar a rotineira via capitalista. É preciso repensar o consumo para adoção de métodos alternativos de vida, só assim a diferença em nosso meio ambiente acontece, pois o vir a ser sustentável é filosofia que não necessita de compras supérfluas, e sim de grandes reduções, buscando sempre alteração da base estrutural e violenta existente.
Referências bibliográficas
[1] BRASIL, Ministério de Meio Ambiente. Apostila – Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais, 2017. Disponível em: http://www.mma.gov.br/fundo-nacional-domeio-ambiente/item/11150.
[2] __________, (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial.
[3] CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação para sociedades sustentáveis e ambientalmente justas. REMEA-Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, 2008.
[4] FOLADORI, Guillermo. Avanços e limites da sustentabilidade social. Revista Paranaense de Desenvolvimento-RPD, n. 102, p. 103-113, 2011.
[5] GOMES, Daniela Vasconcellos. EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO ÉTICO E SUSTENTÁVEL. REMEA – Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, [S.l.], v. 16, set. 2012. ISSN 1517-1256. Disponível em: <https://periodicos.furg.br/remea/article/view/2778>. Acesso em: 14 abr. 2019. doi:https://doi.org/10.14295/remea.v16i0.2778.
[6] ENCONTROS e caminhos: formação de educadoras(es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Departamento de Educação Ambiental, 2007. Vol 2.; (p.131-142) 352p.
[7] GODECKE, Marcos Vinicius; NAIME, Roberto Harb; FIGUEIREDO, João Alcione Sganderla. O consumismo e a geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil. Electronic Journal of Management, Education and Environmental Technology (REGET), v. 8, n. 8, p. 1700-1712, 2012.
[8] LEONARD, Annie. A História das Coisas. 2007. (21m17s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw>. Acesso em: 18 out. 2018.
[9] QUINTAS, José Silva. Introdução à gestão ambiental pública. Brasília: Ibama, 2005.
[10] SILVA, Rosana LF. O meio ambiente por trás da tela: concepções de educação ambiental dos filmes da TV escola. 30ª Reunião Anual da ANPED, 2007.
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